AE CAMPONESA E A LUTA CONTRA O PATRIARCADO
sistema capitalista patriarcal tem vindo a aplicar a agricultura industrial cuja opressão incide sobretudo sobre as mulheres. No contexto africano, regra geral, as mulheres não têm assegurado o acesso à terra e, consequentemente, aos recursos e à autonomia dos seus corpos e meios de subsistência. Apesar de serem a principal fonte de mão-de-obra e valor acrescido na produção e no consumo alimentar, as mulheres são impedidas de participar nos processos de tomada de decisão,desde as políticas públicas, até às finanças domésticas, e são as mais afetadas pela subnutrição. São geralmente os homens que detêm o poder de tomar decisões nos agregados familiares, desde que culturas plantar, vender e armazenar, até que utilização dar ao rendimento gerado. Além disso, a agricultura industrializada e os mercados globalizados também são codependentes, o que exacerba ainda mais os problemas do patriarcado, as desigualdades com base no género e a violência.
Contrariamente à agricultura industrializada, a Agro-ecologia camponesa é inclusiva e está disponível para todos. Constituindo uma larga maioria na produção alimentar, as mulheres desempenham um papel particularmente importante no sistema alimentar global como guardiãs da biodiversidade e das sementes agrícolas..
O patriarcado também prejudica a juventude. Na África subsariana, por exemplo, os jovens veem-se condenados a migrações forçadas pela guerra, as mudanças climáticas e condições socioeconómicos opressivas. A usurpação de terras pelos capitais transnacionais para investimentos industriais,produção energética, extrativismo e “desenvolvimento” é comum. A mão de obra jovem e migrante é subestimada e brutalmente explorada.
A Agro-ecologia camponesa é o caminho para a soberania alimentar e a solução para a crise global multifacetada. É uma visão política, um modo de vida e uma fonte de conhecimento que vem dos nossos antepassados.
Embora não possa vencer o patriarcado em si, a Agro-ecologia camponesa pode, sim, abordar algumas das suas normas opressivas. Tem o potencial para mudar as vidas de muitas mulheres,porque o papel fundamental que elas desempenham é reconhecido e refletido na prática. Os processos de tomada de decisões estão, aos poucos, a alargar-se para incluir transversalmente as mulheres em diferentes movimentos e organizações, entre as quais, decisões tomadas em estruturas organizacionais (como as de LVC e das organizações-membro).
Outros aspectos do patriarcado também estão a ser, em certa medida, aliviados. Os custos reduzidos da prática da Agroecologia camponesa permitem que as mulheres participem e beneficiem mais plenamente dos retornos superiores e das culturas mais diversificadas. Ao plantarem uma diversidade de culturas, desenvolverem ecossistemas resilientes e partilharem conhecimentos, as mulheres podem tomar o controlo sobre os seus sistemas alimentares e
proporcionar alimentos mais nutritivos para si próprias e para os seus agregados familiares. A redução da dependência das mulheres nos homens que a Agroecologia camponesa proporciona tem o potencial para alterar a dinâmica do poder, com as mulheres a tomar a medida de responsabilidades e poder que equivale ao peso do seu papel fundamental. Enquanto a agricultura industrial foi incapaz de responder aos crescentes desafios impostos às mulheres e de dinâmica de género, a Agroecologia camponesa, pelo contrário,demonstra-se capaz de o fazer
Mais uma vez, a Agroecologia camponesa não se resume a um conjunto de práticas: é um modo de vida que procura ser inclusivo e que não atribui a autoridade aos homens só por serem homens. As mudanças climáticas reflectem uma crise política, social e ecológica que só tende a piorar se as vozes do(a)s produtore(a)s camponese(a)s (e dos consumidores) — especialmente, das mulheres — continuarem a ser silenciadas ou ignoradas. É por isso que para lutar pela justiça climática é preciso confrontar as relações de poder com base no género.
Apesar disso, ainda persistem importantes expressões do patriarcado, sobretudo, papéis e poder de tomada de decisão no agregado familiar atribuídos com base no género, que, em muitas zonas, permanecem firmemente arreigados. Muitas vezes, é uma situação que depende do contexto cultural (ao nível comunitário e ao nível do agregado familiar) em que a Agroecologia camponesa é praticada e a medida em que as comunidades e abordagens adoptam as questões de género como elemento central das suas visões estratégias e metodologias de trabalho.
A fim de erradicar o patriarcado e a discriminação onde quer que ela exista, também os jovens devem empenhar-se no difícil trabalho de auto-avaliação e examinar as formas como podem perpetuar o patriarcado e o racismo.
Isto continua a ser um obstáculo à Agroecologia Camponesa como instrumento para desafiar e superar o patriarcado
